domingo, 13 de abril de 2008

A PERMANENTE BUSCA DA IDENTIDADE NA CRIAÇÃO DO PSL


Esta é uma questão que deve nascer anteriormente ao surgimento do “sonho” de criar o melhor cavalo do mundo, o Puro Sangue Lusitano.
Esta raça é a melhor nos dias de hoje devido ao seu custo/benefício e a abertura dos mercados internacionais, permitindo produzir um cavalo “globalizado” e reafirmo isso com mais veemência, 6 anos depois de termino do livro “Apontamentos Eqüestres aonde afirmei: “Considero o PSL o cavalo do século XXI, em virtude de suas características ímpares, tanto como cavalo de sela quanto de Toureio. Os cruzamentos de Cavalos Lusitanos com outras raças, como o PSI ou cavalos de origem alemã, resultam em excelentes cavalos de esporte. No Brasil, incontestavelmente, o cruzamento do rebanho nacional com o cavalo PSL irá reverter a situação de falência zootécnica de algumas raças e possibilitar a melhora de um enorme rebanho sem registro, dito SRD – bem mais que 50% do rebanho nacional – ou mesmo o cruzamento com cavalos mestiços de outras raças – com registros em Stud Book’s – originadas do cavalo português. Este será o cavalo comercial para a grande maioria dos cavaleiros e amazonas do Brasil e do mundo neste novo século, em virtude de sua características ímpares” Aproveito e uso também aqui para realçar o pensamento, palavras de um dos maiores pensadores e criadores da raça Fernando Sommer d’ Andrade, numa carta escrita em 1977 – “ Nos cruzamentos, basta uma pitada de sangue Lusitano para conferir uma boa cabeça (psique) – a morfologia e o tamanho virão de cruzamentos judiciosos com cavalos ingleses ou alemães”. Por outro lado na mesma carta, ele afirma: “ trabalhar sem titubeios para a unificação do tipo. Sem uma raça definida, não conseguiremos nos afirmar no mercado internacional” . Claramente temos aqui os dois caminhos a seguir.

O cavalo PSL obrigatoriamente terá de ter um tipo. Sabemos que existem os sub- tipos, como Veiga, Andrade, CN, Alter, Quinas. Na década de 90 o sucesso obtido por alguns criadores foi devido ao F1, Veiga/Andrade, o que trouxe bons cavalos de função, naquele tempo, inclusive ganhando múltiplas exposições seguidas. Nesta década assistimos ao surgimento do tipo “Dressage”, um cavalo apenas comercial, sem maiores vínculos com a raça, podendo este mesmo produto ser um animal warmbloob. O que se nota entretanto é o surgimentos de cavalos de maior porte, com registros no PSL e “carroceiros por natureza” por ter-se selecionado animais para chegar a este estágio, sem maiores virtudes (apenas por altura), utilizando-se de algumas matrizes aonde não conhecemos a sua procedência depois da terceira geração, o que para uma raça dita “pura” é muito pouco tempo. Certo é que o livro do PSL foi fechado já tem algumas décadas e precisaremos de mais outras para consolidar o tipo, no mínimo mais 50 gerações.

Recentemente fui forçado a rever os meus conceitos; minha origem foi no cavalo de esporte, até criei BH nos anos 80 para 90, muitas vezes acreditava ser os cavalos maiores os melhores, mas quando os montava, gostava mesmo era dos de menor porte. Esta experiência a vivi na Coudelaria do Castanheiro, experiência esta que agradeço ao Eng. Aldo Araujo Pinto, ter-me agraciado. Montar um garanhão como o Distinto (MAC) e depois montar outro como o Hippus (AD), estava montando duas raças distintas de cavalos. Reparem que falo de dois ícones da raça. Certamente não falarei de Malmequer (BN) (esse um cavalo com uma história muito grande, que em nosso país não teve a sorte nos cruzamentos), mas como cavalo, deu-me a sensação e a percepção do que seria chegar perto de um cavalo com todas as características de um bom Lusitano e sua limitações. Outro cavalo importante, foi Parágrafo do Top, como cavalo e garanhão, reafirmando a grande participação no criatório nacional de Afiançado de Flandes e mais recentemente o Portugal e Quieto, ambos intimamente ligado em sua projeção como garanhões, um no Brasil e outro no México. Existe no Brasil hoje uma diversidade, baseada na qualidade desta raça que duvido encontrar em Portugal.

Este é um exemplo do que precisamos unificar, a superação física e a energia dos Branco Núncios (tipo Malmequer) , a estrutura morfológica de um Hippus, um Andrade (um cavalo belo, mas muito carroceiro, por ter pelos em demasiado nos boletos, garupa dividida e crinas espanholadas), a nobreza absoluta de um Distinto “Veiga Coimbra” (não conheci cavalo mais nobre e doce em minha vida) e Parágrafo do Top por sua docilidade, mobilidade e montabilidade, entre outro, a finura de linhas de um Quieto (MAC), os andamentos cadenciados de um Portugal, a rusticidade de um Afiançado, entre outros tantos. Este conjunto, é o cavalo PSL e tudo isto terá de ser preservado, unindo-se outros fatores puramente zootécnicos, como estrutura de membros e aprumos, fator este importante para a longevidade de qualquer cavalo, detalhe este a ser perseguido constantemente para que não danifiquemos a credibilidade zootécnica, de uma raça em busca de sua identidade globalizada.

Para evitar problemas, sempre busco cavalos já falecidos, mas perante o “modismo” do momento, a qual não acredito ser correta conduta, está-se buscando cavalos sem finura, focalizando nos andamentos exclusivamente o trote (todos nós sabemos que o trote é o único andamento que podemos fabricar num cavalo se ele tiver uma boa conexão de rim e corvilhões que suportem o esforço) o tal do “Peralta dos Pinhais”, filho de Hipólito, cavalo que inclusive tive a oportunidade de o comercializar, preferindo na altura outro cavalo, quando o mesmo tinha 4 anos, antes de ser comprado pela marca “Freire”. Este é o cavalo que irá fazer um estrago enorme na criação do PSL, porque ele está fora dos padrões da raça e falta-lhe o principal, finura. Afirmo isso certamente porque lembro-me dele potro quando o montei, quando o mesmo galopava o chão tremia, era pesado, não era um cavalo airoso, leve, flexível. Não afirmo que não o seja hoje trabalhado, pois nunca o vi fazendo uma reprise de Adestramento de nível superior. Um cavalo deste gênero e tipo, em qualquer exposição terá obrigatoriamente de ser “cerca”, aliás como sempre foram todos os animais pertencentes ã família do mesmo, tanto de Hipólito quanto de Cenoura.

Chagamos ao ponto, temos de preservar o cavalo Puro Sangue Lusitano na sua essência, nas definições colocadas muito superficiais no Stud Book da raça. Não falo do cavalo “barroco”, mas sim de um cavalo bonito, com conexões perfeitas, cabeça típica, com uma tamanho de dorso que permita a colocação de uma sela e a mesma não lhe cubra os rins, uma garupa longa que tenha suas linhas inserindo sobre dois corvilhões fortes e bem plantados, não retos , mas ligeiramente fechados, quando em movimento não mostrem vacilações laterais de modo algum, boletos bem divididos e secos. Já a sua frente, terá obrigatoriamente de ser alta e leve. Depois de tantos anos, o pescoço do garanhão Distinto ainda é o meu modelo de pescoço ideal (prestem bem atenção, falo em Distinto porque foi na história do cavalo PSL o único garanhão a ganhar em Lisboa em 1992 o prêmio de Campeão dos Campeões por unanimidade), e a frente dele certamente é um modelo a ser reverenciado. Este cavalo descrito acima, será responsável por chegar ao mercado para preencher 80% dos pedidos de bons cavalos desta raça, servirem de montaria para senhoras com mais de 40 anos de idade. Os outros 20%, serão cavalos de Toureio e de Dressage.

No nosso ver é bem mais fácil, chegar ao mercado de “Dressage” buscando-se através do cruzado, que tentar mudar uma raça milenar. Muitos estragos já foram feitos e não podemos permitir que isso venha a acontecer.

Os caminhos estão claros, há que ter coragem e conhecimento para persegui-los e buscar através do bom trabalho com base nas quatro fases da produção de cavalos, genética/manejo/performance/marketing os resultados individuais.

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