sábado, 5 de abril de 2008

ADESTRAMENTO



O Adestramento em nosso país é uma modalidade eqüestre praticada apenas em alguns Estados e certamente fechada dentro das hípicas mais famosas.
Por ser uma disciplina no passado reservada a militares, os quais dominaram o cenário por décadas, apenas nos últimos anos tivemos uma abertura da disciplina Eqüestre, devido exclusivamente à criação do cavalos Puro Sangue Lusitano e a crescente participação desta raça nas competições, representando hoje, mais de 80% dos participantes em concursos nacionais, com resultados expressivos nas competições internacionais, no Brasil e no estrangeiro.

O reflexo de uma falta de política de incentivo especifica para a formação de professores na modalidade, sem duvida é o grande vilão da falta de expressão do Adestramento, a qual no mundo é a mais desenvolvida da modalidades eqüestres, pelo fato que pode ser praticada dos 8 aos 80 anos, permitindo que o cavaleiro pratique o seu esporte durante toda a sua vida. Já em outras modalidades, além do “risco” crescente, como o Salto de Obstáculos e o Concurso Completo de Equitação, a vida útil de um cavaleiro é muito menor. Normalmente o que observamos no mundo são os cavaleiros começarem o seu esporte eqüestre pelas modalidades de maior ação e adrenalina e com a idade, começam a privilegiar a técnica e irremediavelmente começam a praticar o Adestramento como modalidade de competição, sendo este conhecimento fundamental para o CCE, fazendo parte da primeira fase da competição e do salto para a preparação dos cavalos. Inclusive as grandes equipes de Salto de Obstáculos no mundo, todas elas tém o seu cavaleiro de Adestramento para preparar os cavalos, como pude verificar diversas vezes em diferentes locais do globo.

Hoje sentimos sem duvida a falta de Equitadores de Adestramento (pelo menos cavaleiros que não estraguem os cavalos no ensino elementar). A única Escola que buscava a formação de cavaleiros era no Paraná e ela não existe mais. A falta de obrigatoriedade de partes dos órgãos reguladores do esporte, Federações de Estado e CBH, não exigirem de seus professores estaduais qualquer tipo de escolaridade eqüestre, sendo uma profissão em que tudo pode acontecer, sem proteger ninguém, que eventualmente dedicou tempo e dinheiro na sua instrução, ficando uma “terra sem lei”, aonde “em terras de cegos, quem tém um olho é rei” e no Adestramento a coisa piora ainda mais...devido á escassez ainda maior de professores, qualquer “gringo” que por aqui “aporta”, falando alemão ou holandês logo torna-se professor/a , criando-se uma confusão total de escolas, doutrinas e conceitos. Bem que hoje com a ditadura da Equitação praticada no norte da Europa e de competição, existe uma maior unificação na dita “boa equitação de Adestramento”.

Pessoalmente estive na Suécia por duas oportunidades, ambas para assistir o Rodrigo Pessoa ser campeão do mundo. Como jornalista filiado à Aliança Internacional de Jornalistas Eqüestres, tive contato inúmeras pessoas, uma delas era responsável técnico pelas 600 escolas de formação de profissionais de Equitação existentes na Suécia. Note-se que é um país aonde 8 meses por ano é um frio terrível, quase todo o período acompanhado de neve. No Brasil temos uma representante resultante deste trabalho, liderando uma equipe de Adestramento famosa ligada a um laboratório farmacêutico.

Tudo isto já foi escrito, tanto foi escrito que parei de “dar morros em pontas de faca”. A pergunta que não quer calar é: A quem interessa esta situação? Certamente não é ao criador de cavalos. Será que é falta de vontade política ou de projetos à altura por parte dos diretores das Federações Nacionais, ou simplesmente uma “miopia” absoluta referente à importância do cavalo na sociedade moderna, o grande link do homem com a natureza, principalmente as do hemisfério norte.

Neste momento vivemos a febre das Eliminatórias, só se fala nisso, só se pensa nisso, mas, analisando mais a fundo o que acorre neste campo, vemos um “quadro negro”, eliminatórias para JO sem exame antidoping, sem uma programação que permita, mesmo que alcançado o índice, chegar com os animal em plenas condições físicas ao outro lado do mundo. Dos conjuntos guerreiros, apenas um conseguiu no último final de semana (31/03/08) o índice (entre festas para juízes), aqui entre nós, com um cavalo, o qual se tiver o privilégio de adentrar à arena Olímpica em Hong Kong, teremos bastante sorte. Afirmo isso devido a não existir no Brasil por parte dos Diretor de Adestramento da CBH uma preocupação maior com a parte clinica dos animais e conseqüentemente sua proteção. O exame antidoping serve exatamente como defesa do cavalo. Imagine-se transportá-lo até Hong Kong e o mesmo não passar no exame veterinário (certamente não será a primeira vez que isso irá acontecer). No caso do Nilo, esta preocupação é real! Ninguém sabe da história deste bom cavalo castrado, que foi um cavalo que começou sua carreira na Equitação de Trabalho, cavalo este já operado de problemas de respiração, por pouco não foi vendido para o meu amigo Tom Valter dos EUA.O incrível é que os dirigentes tém acesso a todos os filmes, peço que prestem atenção á Copa Amil 2007 e ao KUR do Brasileiro de 2006. O cavalo estava irregular. Prestem atenção que nada escrevo sobre do cavaleiro, este merece todo o meu respeito e admiração, aliás está tirando do cavalo muito mais que fisicamente este permite, um animal longo, sobre si, de membros anteriores curtos demais, aonde como todos sabemos deve estar num “over use” dos corvilhões para sustentar o “trote passageado”. Sem duvida este deve ter um “coração Lusitano”. Realmente em nada ajudará o nosso país a apresentação de um conjunto desta qualidade, reforçará a reportagem editada o ano passado numa revista alemã conceituadíssima, aonde afirmava que os cavaleiros nacionais de Adestramento eram “bugres” e que o investimento da FEI estava sendo em vão. Não vejo como alguns, que será benefício para a raça PSL criada no Brasil, adentrar simplesmente ao picadeiro Olímpico, acredito que teremos de entrar com distinção para conseguirmos o marketing positivo para raça, diga-se de passagem o que acontece com o Salto e com o CCE. Quanto aos outros conjuntos, não tenho comentários, por tratar-se de aventuras diversas, aonde não existe bases de analise, nem uma programação convincente. Tecnicamente fica muito difícil para um “pônei”, que até poucos dias atrás executava reprises de dificuldade média, mesmo sendo um “pônei” de muita categoria por sinal, com a maior promessa do Adestramento Nacional, formando o conjunto, chegar a um resultado que não seja artificial, artificial por não existir exame antidoping nas eliminatórias no Brasil para formação de uma equipe Olímpica (pelo menos não foram publicados os resultados). A pergunta pertinente sobre este conjunto é: Se este estava na Europa, aonde acontecem GP de Adestramento todos os finais de semana, porque veio para o Brasil fazer as eliminatórias. Lá inclusive seria mais fácil, pois os picadeiros são os mesmos, 60m. por 20m. e evitaria-se colocar o “pobre” animal em esforços maiores, manteria o ritmo, etc. Tudo isto é muito turvo, sem informações claras para que possamos examinar com exatidão o que acorre.
Mas, como tento sempre ver o copo meio cheio, esta iniciativa e luta terá a parte positiva, a formação de cavaleiros, a experiência adquirida nesta luta por uma vaga, a superação dos desafios, um cavalo que em Dezembro de 2007 fez 59% num GP, chegar a 68% em menos de quatro meses, é realmente impressionante. Para quem conhece cavalos há mais de 35 anos, com certeza pedirá exame antidoping no cavalo/os, inclusive compromete a boa conduta dos dirigentes por não terem a sensibilidade de observar os fatos e analisar.
Este texto é um apelo aos dirigentes do nosso esporte que não deixem de proteger os animais, exame antidoping em competições esportivas são de vital importância, para que possamos mensurar num julgamento subjetivo a realidade apresentada exclusivamente pelo movimento do cavalo durantes as figuras a serem executadas.
Não podemos nos apegar apenas ao “marketing”, aos desejos individuais. Caso este tipo de eliminatória estivesse ocorrendo nos EUA, neste moldes, muitos processos já tinham adentrado aos fóruns contra os órgãos reguladores e com certeza, deixariam os dirigentes sem ação em suas defesas. Não podemos comprometer a boa imagem do esporte eqüestre do Brasil, porque esta poderá se a primeira e única equipe. Temos ótimos valores já preparando-se para o México e para os jogos de Londres.

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